Friday, February 23, 2007

Balanço do bimestre.

A gente não somos inútil

Por Carlos Brickmann - Observatório da Imprensa.

A imprensa é criticada e merece muitas das críticas que lhe fazem. Mas é insubstituível: nesse caso do metrô paulista, por exemplo, apesar da cobertura preguiçosa de antes do acidente, os meios de comunicação acordaram e deram voz aos cidadãos cujas casas sofrem danos, à família dos que morreram, aos peritos cuja análise, talvez por exigir gastos não-previstos, estava destinada à gaveta.

O caso das soldas malfeitas numa estrutura provisória, revelado pela TV, foi devastador; e obrigou o governo paulista, até então indeciso quanto a seu papel numa obra turn-key, porteira fechada, a intervir e suspender os trabalhos, até que tenha a certeza de que tudo está seguro.

Outro caso interessante é o da festa do PCC, também revelada pela TV e, em seguida, complementada pelo maior jornal regional do país, o Diário do Grande ABC. A primeira matéria revelou a tranqüilidade do bando criminoso, capaz de fazer festas, com muita cocaína e maconha, nas barbas da polícia, no centro nervoso da economia brasileira. A segunda foi mais longe: mostrou que, quando a PM ocupou a região da favela, por 40 dias, os traficantes se recolheram e a população teve segurança. Quando a PM retirou suas tropas, prometendo instalar ali um posto policial, a tranqüilidade acabou. O posto, naturalmente, jamais foi instalado. Outros sinais da presença do Estado, tais como escola, posto de saúde, saneamento básico, essas coisas, nem foram cogitados. E a única polícia que passa por lá, segundo o Diário do Grande ABC, é a que vai buscar o que é dela.

Há mais coisas acontecendo e que só ganharam repercussão porque a imprensa insiste no assunto. Há ataques a homossexuais em São Paulo e no Rio; há a insistência de grupos nazistas, que defendem a supremacia branca, em atacar pontos de reunião de negros, de nordestinos, de judeus. Será preciso que morra alguém (e, em outras ocasiões, já morreu muita gente) para que os governos se mexam?

A imprensa temos defeitos. A gente tentamos influir na eleição presidencial. Mas temos qualidades. Ao contrário do que diz o rock, a gente não somos inútil.




Sossega, leão

A propósito, o caro colega que quiser criticar o uso deliberado do plural errado, tipo "a gente tentamos", saiba que não há erro, não. Há uma silepse de número, é português castiço. Telefonem primeiro para o grande Eduardo Martins.




TAM, tam, tam, tam

A TAM, empresa aérea a que o comandante Rolim Adolfo Amaro deu um padrão excepcional de qualidade, viu multiplicar-se a crítica à medida que os serviços pioravam. Numa tentativa de reverter a situação, publicou anúncio informando que vários canais de comunicação estavam abertos ao público.

É verdade; só que não funcionam. Este colunista teve uma mala arrombada num trajeto da TAM (nada foi roubado, mesmo porque nada havia para roubar. As cuecas são enormes!). Usando o canal "Fale com o Presidente", contou o caso, disse que não estava pedindo nada, apenas informando, para que a empresa pudesse verificar se havia algo errado em sua operação.

A resposta que recebeu foi uma obra-prima: dizia que, como não houve reclamação no próprio aeroporto, não poderia ser aberto processo de indenização. Que indenização, cara-pálida? O funcionário nem leu a mensagem e botou a resposta-padrão – com assinatura do presidente da empresa. De que adianta, desse jeito, abrir canais de comunicação?




Indignação...

A morte do menino João Hélio, preso ao carro, do lado de fora, pelo cinto de segurança, despertou profunda emoção – emoção que os meios de comunicação trataram de capitalizar, mandando apresentadores de telejornal entrevistar a família, fazendo editoriais indignados, caprichando nas caras e bocas e exigindo providências.

Aí é que a coisa pega: que providências? Este colunista, talvez por falha de pesquisa, não viu ninguém perguntar ao governador nem ao secretário da Segurança como é que é possível arrastar um corpo por sete quilômetros, numa área populosa do Rio, sem que um único policial percebesse o que acontecia. E isso, não esqueçamos, num momento em que a polícia fluminense recebeu o reforço da Força Nacional de Segurança.

Mas não toquemos nesse assunto. O caso é trágico demais e não pode terminar em piada.




...de momento

Este colunista recebeu uma lista de jovens assassinados nos últimos tempos, juntamente com o que aconteceu aos assassinos – em geral, nada. Não teria sido possível, em meio à indignação com a terrível morte de João Hélio, lembrar alguns dos outros casos, em que também houve indignação e tudo não passou disso?




A norma anormal

Parece que todo mundo esqueceu como começou o apagão aéreo: começou com a decisão dos controladores de vôo de aplicar as normas de sua profissão, sem gambiarras, sem jeitinhos. O tráfego de aviões entrou em colapso.

Agora vemos nos meios de comunicação, como se fosse um fato absolutamente normal, as ameaças de vários setores de iniciar uma operação-padrão. Essa operação, que significa obedecer às normas nacionais (e até internacionais) que regem o exercício de uma profissão, provoca sempre o caos no setor.

Alguém precisaria dizer, na imprensa, que o significado disso é grave: significa que todo o país funciona na base do improviso, do jeitinho, do deixa que eu chuto. Na hora de trabalhar como se deve, a coisa não funciona.

Como diria qualquer consumidor de notícias do Primeiro Mundo, norma é norma e existe por algum motivo. Deixar de observá-la é uma transgressão (que, conforme o caso, pode chegar a ser crime). Pergunta aos meios de comunicação: em quais outros setores, além da polícia, além dos funcionários de aeroportos, além dos controladores de vôo, a operação-padrão significa paralisia?




Questão de clima

O atento leitor Marcelo Cukierman, da Universidade do Texas, voltando ao tema das modificações no clima e do pensamento único no noticiário da imprensa, comenta:

"A grande manchete do clima global ninguém publicou. É que o nível dos mares vai subir apenas 43 centímetros até 2100. Isto porque a previsão anterior era de 2 metros. Quanto será o nível de crescimento no próximo estudo?

"Outra manchete não mostrada na imprensa é que existem 10% de possibilidades de que não seja o homem a causa do aquecimento global. Ah... mas isto é 90% de certeza, certo? Então deixa eu te perguntar o seguinte: vou te colocar na frente de uma porta. Você não sabe o que tem atrás. Existe uma chance de 90% de ter US$ 10 milhões e uma chance de 10% de ter uma pessoa com uma arma que vai te matar. Você abriria a porta?

"O Cato Institute fez uma análise muito boa sobre o aquecimento global, com o resumo disponível aqui.

"E se você tiver tempo, escute o Podcast do Cato Institute sobre o assunto, aqui.




Boa leitura

Aureliano Biancarelli, excelente jornalista, acaba de lançar um livro-reportagem que merece ser lido: Assassinatos de mulheres em Pernambuco. O subtítulo é "Violência e resistência em um contexto de desigualdade, injustiça e machismo".

Por que Pernambuco? Porque lá existe o Observatório da Violência contra a Mulher, que monitora o tema. E tem trabalho: morrem mais de 300 mulheres por ano, vítimas de violência. É, proporcionalmente à população, um número 50% maior que o de São Paulo.

A pesquisa é boa. E o texto de Biancarelli deixa o livro muito agradável.




Como, esquecer?

O leitor Marcio Parra selecionou uma nota deliciosa:

"Os italianos, por sua vez, comemoram a volta à liderança depois de mais de 13 anos. A última vez em que a `Azzurra´ esteve no topo foi em novembro de 2003, apenas três meses depois de o ranking ser criado pela Fifa".

E pergunta: "Para ser jornalista, precisa esquecer a Matemática?"

Claro que não, Márcio. A gente só esquece algo que sabia. No geral, o pessoal da profissão não faz muita diferença entre milhão, bilhão ou mil, nem entre toneladas e quilos. Há alguns anos, quando a União Soviética invadiu o Afeganistão, os Estados Unidos bloquearam, em represália, as remessas de trigo.

Saiu no jornal que o embargo atingira uma tonelada de trigo. Este colunista chamou o redator e lhe perguntou se não achava uma represália meio pequena para evento tão importante. Ele disse que não sabia o quanto de trigo pesava uma tonelada.

Tudo bem, ele não sabia. Mas uma represália que podia ser transportada numa Kombi?




É a glória!

O texto abaixo saiu num jornal dos Açores, o Diário Insular. Informava que um ucraniano havia morrido depois de brigar com um português, numa festa. O ucraniano levou um soco, caiu, bateu a cabeça numa quina e morreu, segundo o jornal, de "traumatismo ucraniano".




E eu com isso?

Este colunista é natural da Franca, cidade paulista que produz o melhor café do mundo e excelentes calçados. Seu avô, Jacob Brickmann, foi um dos responsáveis por levar à cidade seu primeiro estabelecimento especializado em curtição de couros, o Curtume Carioca. E, como diria o Faustão, é do tempo em que curtir era o que se fazia logo depois de esfolar o bicho.

O sentido da palavra mudou com o tempo. Mas precisava exagerar? Os dois títulos saíram no mesmo dia:

1. Rachel Weisz vai curtir temporada na Ilha de Caras

2. Fernanda Vasconcelos vai curtir Carnaval em Olinda




O grande título

Nesta semana, a disputa é forte. Começa por uma daquelas montagens que, à moda do Jogo da amarelinha, de Cortázar, admitem várias formas:

** "Câmara Congresso Benefício para crime hediondo limitado Leis tentarão afastar menores do crime"

Há também um título misterioso, que convida o leitor a descobrir o que efetivamente acontece no mundo dos famosos:

** "Atriz é pivô de entre Lindsay Lohan e sua assistente"

Um grande título da área médica parece indicar uma nova descoberta científica:

** "Dano cerebral ajuda a parar de fumar"

Mas, na opinião deste colunista, nada supera um título simples, sem firulas, da Editoria de Ciências:

** "Nova pesquisa lança luz sobre matéria escura"

Wednesday, February 14, 2007

Ética se aprende na faculdade?

Será que a opinião pública está tão interessada assim na visão que Narcisa Tamborindeguy ou Adriane Galisteu têm da vida? A julgar pelo espaço que a mídia dedica a esse tipo de formador (?????) de opinião, o Brasil virou um imenso Castelo de Caras. Adriane Galisteu, após o seu casamento relâmpago, falou às páginas amarelas de Veja" e deu aula magna de insensibilidade, egoísmo e...sinceridade!Estranha mistura, mas a moça tem razão quando se diz sincera. Ela não engana, revela-se de corpo (e que corpo!) inteiro, e o retrato queaparece é assustador! Adriane teve uma infância atribulada, perdeu o pai aos 15 anos, ainda pobre, e um irmão com AIDS quando já não era tão pobre. "Eu não tinha um tostão, não tinha dinheiro para comprar um pastel. Meu irmão estava doente. Minha mãe ganhava 190 reais do INSS, meu pai já tinha morrido. Eu sustentava todo mundo e não tinha poupança alguma".Peço licença a Adriane, mas vou falar de outra infância triste de mulher, a de Rosa Célia Barbosa. Seu perfil - admirável - surgiu emrecente reportagem da "Vejinha" sobre os melhores médicos do Rio de Janeiro. Alagoana, pequena, 1m50cm, começou a sua odisséia aos sete anos. Largada num orfanato em Botafogo, Rosa Célia chorou durante meses."Toda a mulher de saia eu achava que era a minha mãe que vinha me buscar. Depois de um tempo, desisti.".Voltemos a Adriane Galisteu. Ela é rica, bem sucedida, e "nem na metade da escada ainda". A escada, não deixa de ser uma boa imagem para alguém que - como uma verdadeira Scarlet O´Hara de tempos neoliberais (muito mais neo que liberais) - resolveu que nunca mais vai passar fome. Até aí, tudo bem; mas é desconcertante ver como o sofrimento pode levar à total insensibilidade.
Pergunta da repórter a Adriane se ela faria algo para o bem do outro: "Para o bem do outro? Não, só faço pelo meu bem. Essa coisa de dar sem cobrar, dar sem pedir, não existe. Depois, você acaba jogando isso na cara do outro." "Você nunca cede, então?" "Cedo, claro que cedo. Já cedi em coisas que não afetam a minha vida. Ele gosta de dormir em lençol de linho e eu gosto de dormir em lençol de seda. Aí dá para ceder..."Rosa Célia fez vestibular de medicina quando morava de favor num quartinho e trabalhava para manter-se. Formou-se e resolveu dedicar-se à cardiologia neonatal e infantil, quando trabalhava no Hospital da Lagoa. Sem saber inglês, meteu na cabeça que teria que estudar no National Heart Hospital, em Londres, com Jane Sommerville, a maior especialista mundial no assunto. Estudou inglês e conseguiu uma bolsa e uma carta da Dra. Sommerville. Em Londres, era gozada pelos colegas ingleses por causa de seu inglês jeca. Ganhou o respeito geral quando acertou um diagnóstico difícil numa paciente escocesa, após examiná-la por oito horas seguidas. "Ela falava um inglês ainda pior do que o meu", lembra Rosa Célia divertida.Adriane Galisteu está rica, mas não confia em ninguém, salvo na mãe. Nem nos amigos. Vejam: "Eu não posso sair confiando nas pessoas". Não tenho motorista, nem segurança, por isso mesmo. É mais gente para te trair Eu confio mais nos bichos do que nas pessoas. Ainda existem pessoas que acham que eu tenho amnésia. Muitas das que convivem comigo hoje já me viraram a cara quando estava por baixo. Mas você pensa que eu as trato mal? Trato com a maior naturalidade. Porque elas podem até me usar, mas eu vou usá-las também. "É uma troca."De Londres, Rosa Célia iria direto para Houston, nos Estados Unidos.Fora escolhida e convidada para a Meca da cardiologia mundial. Futuro brilhante a aguardava. Uma gravidez inesperada atrapalhou o sonho. Pediu 24 horas para pensar e optou pelo filho, voltando ao Rio de Janeiro. Reassumiu seu cargo no Hospital da Lagoa e abriu consultório. Mas todo ano viaja para estudar. Passa no mínimo um mês no Children´s Hospital, em Boston, trabalhando 12 horas por dia."Você gosta de dinheiro, (Adriane)?" "Adoro dinheiro e detesto hipocrisia". Gasto, gosto de gastar, gosto de não fazer conta, de viajar de primeira classe. Tem gente que fala: esse dinheiro que ganhei eu vou doar... O meu eu não dôo não. O meu eu dôo é para a minha conta. Eu adoro fazer o bem, mas também tenho minhas prioridades: minha casa, minha família. Primeiro vou ajudar quem está mais próximo. "Mas façominhas campanhas beneficentes."Rosa Célia atualmente chefia um sofisticadíssimo centro cardiológico, o Pró-Cardíaco. Lá são tratados casos limite, histórias tristes. O hospital é privado e caríssimo, mas ela achou um jeito de operar alicrianças sem posses. Criou uma ONG, passa o chapéu, fala com amigos e com empresários. O seu Projeto Pró-Criança já atendeu mais de 500, e 120 foram operadas. Sonhei a vida inteira e fiz. Não importou ser pobre, mulher, baixinha, alagoana.Eu fiz."Voltemos a Adriane Galisteu e esbarraremos, brutalmente, na frustração Já tive vontade de viajar e não podia. Queria ter um carro e não tinha. Queria ter feito uma faculdade e não tive Dinheiro. Não que eu sinta falta de livros, porque livro a gente compra na esquina, e conhecimento a gente adquire na vida. Eu sinto falta é de contar para os amigos essas histórias que todo mundo tem, do tempo da faculdade.Duas vidas, dois perfis fora da normalidade, matéria-prima para os órgãos de imprensa. Mas qual é a mais valorizada pela mídia hoje em dia? É fácil constatar e chegar à conclusão de que há algo muito errado com a nossa sociedade. Pode ser até que o leitor tenha interesse mórbido em saber o que as louras e morenas burras ou muito espertas andam fazendo, mas a mídia não deve limitar-se a refletir e a conformar-se com a mediocridade, o vazio, o oportunismo e a falta de ética. Os órgãos de imprensa devem ter um papel transformador na sociedade e, nesse sentido, estaríamos melhor servidos se houvesse mais Rosas Célias nos jornais, nas revistas e TVs que nos cercam.Voltando ao Castelo de Caras, as belas Adrianes, Narcisas, Lucianas, Suzanas ou Carlas, certamente encontrarão lá um espelho mágico... Se for mesmo mágico dirá que Rosa Célia é mais bela do que todas vocês. (Se você gostou, caro Amigo, divulgue. Vamos multiplicar e fazer a nossa parte num programa de Fome Zero de Cultura.)

Friday, February 02, 2007

Esse é o cenário politico brasileiro!!!!


Bem, nós da direção do capivaras da comunicação não poderíamos deixar de postar aqui os novos personagens da politica nacional.
Deixamos a opinião a critério de vocês....Mas "meu amor" certamente teremos muitas coisas pra comentar....
As fotos são do jornal Estado de Minas do dia 02/02/07.

Thursday, February 01, 2007

Silvio Santos vem aí!!!!!!

3 DIAS para o ínicio.